Será que é necessário sentir aquela paixão avassaladora no início do namoro? E se esta não existir, é sinal que a relação está condenada ao fracasso?
No que toca às relações, ainda existem muitos mistérios por desvendar. Os romances que vemos nos filmes de Hollywood, as grandes declarações de amor eterno que se espalham pelas redes sociais, e todos os contos de fadas que ouvimos a crescer, criam uma série de expectativas, que projetamos depois nas nossas relações, já em adultos.
Se por um lado sabemos que esperar ramos de flores e surpresas românticas todos os dias, até ao fim da nossa vida, pode ser um pouco irrealista, é natural que demos por nós a pensar se estamos a fazer algo de errado, quando, no início de uma vida a dois, não sentimos uma paixão arrebatadora 24 horas por dia.
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Porque é que acreditamos que é preciso uma paixão avassaladora?
A maioria de nós aprendeu durante a vida inteira, através de filmes românticos, que o amor funciona mais ao menos da seguinte forma: Duas pessoas conhecem-se, apaixonam-se perdidamente uma pela outra, tudo é um mar de rosas, e no final vivem felizes para sempre.
O problema é que isso nem sempre é verdade! É claro que, nos primeiros tempos de paixão, quando as pessoas ainda se estão a conhecer, as flores pelo caminho parecem mais coloridas, e o canto dos pássaros mais alegre. É também natural que cedo se comece a fantasiar com as maravilhas de uma vida a dois, e que se se façam projetos dignos de verdadeiros contos de fadas.
Contudo, na vida real, temos rotinas, trabalho, stresses, preocupações, e gradualmente vamos entendendo que estar loucamente apaixonado, todos os segundos do dia, além de impossível, é muito pouco prático.
A intensidade dos sentimentos na vida adulta
Quando somos jovens, e estamos a descobrir o mundo, tudo nos parece mais intenso. Quando eramos crianças e visitávamos um parque de diversões, era como se tivéssemos visitado outro mundo. Ficávamos a semana inteira a pensar no tal parque, e contávamos a todos os que conhecíamos as maravilhas de cada atração e cada momento que lá tínhamos vivido. Porém, hoje em dia, visitamos o mesmo parque, e embora até possamos viver momentos de diversão nele, este já não parece ter a mesma magia.
E porque é que isto acontece porque, gradualmente, começamos a por as coisas em perspetiva. Entendemos que a vida tem vários planos (o pessoal, o profissional, o social, etc.), cada um com a sua importância, e que a nossa vida funciona como um todo. Além disso, já temos mais alguma experiência, que recolhemos no passado, e já sabemos o que pode acontecer no futuro.
A Paixão precisa de ser intensa?
Normalmente é, sim! Isto porque a paixão liberta uma resposta química muito forte no organismo. Quando estamos apaixonados, o cérebro liberta grandes quantidades de hormonas como a dopamina e adrenalina – as mesmas hormonas que são libertadas, por exemplo, quando saltamos de paraquedas. Resultado? Os sintomas são intensos!
Por estas razões, ficamos com os sentimentos à flor da pele e somos dominados por sentimentos de encantamento pela pessoa em questão. O julgamento crítico, o discernimento e a racionalidade são comprometidos, temos dificuldade em ver com clareza os defeitos do outro, e pelo caminho podemos até perder um pouco da nossa individualidade, já que neste estado, tendencialmente, pensamos por dois. Este estado de paixão tem tanto de bom, e por isso devemos aproveitá-lo, como de potencialmente perigoso.
Porém, a fase da paixão é apenas algo passageiro, e que tende, naturalmente, a desvanecer com o tempo, dando lugar a outros sentimentos. Embora não existam certezas quanto à sua duração, estudos indicam que pode durar entre 18 a 30 meses.
E depois da Paixão, vem o Amor?
Talvez sim, talvez não. Quando tudo corre bem, o natural é que a paixão vá progressivamente acalmando, dando origem ao amor, mas também se pode transformar em sentimentos de amizade, ou até mesmo de raiva e ódio, pela outra pessoa. Tudo depende dos fatores presentes no relacionamento. Mas, se estes forem maioritariamente de companheirismo, cumplicidade, interesses em comum, tolerância, respeito e intimidade, existe uma grande probabilidade que se transforme em amor.
Contudo, ao contrário do que a maioria das pessoas acredita, não é preciso passarmos por um período de paixão para sentirmos amor por alguém, mais à frente. A verdade é que o amor não é instantâneo – ele é um sentimento que nasce com o tempo. A personalidade, a maturidade emocional, os interesses e as experiências em comum, aliados à maneira de encarar a vida, objetivos e sonhos, educação e cultura, são os aspetos mais importantes para que um casal, no seu caminho em comum, consiga construir uma relação sólida, e sentimentos fortes e estáveis um pelo outro.
A paixão não dura para sempre, mas é longe do turbilhão de emoções fortes que ela provoca, que, com calma, pode florescer um amor tranquilo, que permite a cada um dos indivíduos estar numa relação, sem terem que abrir mão da sua individualidade.