Tinha pais que discutiam muito?

Tudo o que nos acontece na infância, como ter pais que discutiam muito, fica marcado na nossa mente.

Estudos têm mostrado que as crianças que testemunham conflitos parentais têm maior probabilidade de experimentar uma série de problemas psicológicos na idade adulta, incluindo ansiedade, depressão e até o abuso de substâncias.

Conflito parental é um termo amplo que pode referir-se a qualquer tipo de desacordo ou discussão entre os pais. Pode ser causada por uma variedade de fatores, como stress financeiro, diferentes estilos parentais ou infidelidade.

Não importa qual seja a causa, as discussões entre pais podem ter um efeito duradouro nas crianças. Se é um adulto que cresceu em uma casa onde havia conflito parental, pode estar a enfrentar as consequências, mesmo sem se aperceber.

Continue a ler para conhecer como é que a sua infância está a influenciar a sua vida no dia de hoje.

Efeitos de ter crescido num ambiente com pais que discutiam muito

Há muito que os especialistas têm investigado a forma como o ambiente em que crescemos molda a nossa vida adulta. Crianças expostas a um conflito severo, de longa duração e contínuo entre os seus pais podem vir a tornar-se agressivas, hostis e violentas e em casos mais graves desenvolver uma baixa autoestima, ansiedade, depressão e até pensamentos suicidas.

Isto é fácil de entender, se tivermos em consideração que quando somos pequenos, estamos a aprender a viver neste mundo, e as ações que vemos os adultos à nossa volta a ter, tornam-se o “normal” e moralmente aceitável para nós. Por exemplo, um pai que grita com o filho para falar mais baixo, não importa a idade dele, está a enviar uma mensagem contraditória. Ou então, uma mãe que grite com o pai durante uma discussão, não pode ficar surpreendida se for chamada à escola porque a sua filha gritou e insultou um colega durante uma discussão.

Os padrões de comportamento a que assistimos tornam-se nos padrões que repetidos quando somos pequenos, e se não trabalharmos sobre eles, os padrões que vamos repetir enquanto adultos.

Na vida adulta, podemos olhar para trás e identificar os comportamentos que assistimos de forma positiva ou negativa. Com base nessa reflexão, podemos replicar um comportamento idêntico ou, pelo contrário, desenvolver uma aversão a discussões e conflitos. Contudo, existirão sempre marcas das suas vivências do passado que vão, provavelmente, refletir-se nas suas relações interpessoais, sobretudo as relações mais íntimas.

A professora Gisele Stasiak, em conjunto com a sua assistente de mestrado em Educação, realizou uma pesquisa com 40 crianças entre 6 e 7 anos de idade, pais e professores. O estudo revelou dados curiosos sobre a influência que a relação entre os pais tem na vida dos filhos.

Veja o que foi detetado:

  • Quanto melhor for a interação familiar, menos stressante é a relação entre pais e filhos,
  • Quanto mais as crianças percecionam falta de harmonia entre os pais, menos regras os adultos conseguem impor e mais estas crianças são consideradas “difíceis” por eles,
  • Quanto mais as crianças percebem um clima conjugal negativo, menos habilidades sociais têm,
  • Quanto mais stressante for a vida do casal, mais frequentes são as punições físicas nas crianças,
  • Crianças cujos pais têm uma relação harmoniosa, melhores são os seus relacionamentos com amigos.

Como ultrapassar o passado, na vida adulta

Se tiver crescido num ambiente instável, em que os pais discutiam com frequência, ou até existiam episódios de violência, é natural que ainda esteja a lidar com as consequências de tudo isto no dia de hoje. Para iniciar o seu processo de cura, aqui estão algumas estratégias para lidar com os efeitos:

1. Converse com alguém da sua confiança. Conversar com alguém em quem confia sobre suas experiências pode ser muito útil.

2. Junte-se a um grupo de apoio. Existem muitos grupos de apoio disponíveis para adultos que cresceram em lares com conflito parental. Esta pode ser uma ótima maneira de se conectar com outras pessoas que entendem o processo pelo qual está a passar.

3. Desenvolva mecanismos de coping saudáveis. Experimente diferentes técnicas até encontrar o que funciona para si. Alguns exemplos podem incluir praticar exercício físico, escrever as suas memórias num diário ou passar tempo na natureza.

4. Procure ajuda profissional. Se está a ter dificuldades em lidar com os efeitos do ambiente em que cresceu, procure ajuda profissional de um psicoterapeuta.

Evite que a história se repita:

Como já foi mencionado, crianças que crescem em ambientes disfuncionais, ou conflituosos, têm a tendência de reproduzir estes mesmos padrões na sua vida adulta.

Isto tem um impacto no desenvolvimento dos seus próprios filhos, que por sua vez acabam por repetir o mesmo comportamento mais tarde. Está nas suas mãos quebrar este ciclo, e curar o seu passado, para garantir que os seus filhos terão uma infância muito diferente.

Aqui ficam algumas coisas que deve fazer, para assegurar que está a dar um ambiente saudável aos seus filhos:

1. Evite ao máximo discutir seriamente em frente aos miúdos, especialmente se forem crianças pequenas,

2. Lembre-se de que as crianças são sensíveis, observadoras e percetivas. Elas sentem facilmente tensões, segredos e mal-estar. Como não sabem as causas, podem achar que são culpadas pelos desentendimentos dos pais,

3. Tenha em conta que discutir em frente dos filhos não é um bom comportamento; os pais devem ir para um espaço onde estejam sozinhos ou esperar que os filhos adormeçam,

4. Se os seus filhos presenciaram uma discussão séria, é preciso que eles vejam a resolução da situação. Assim, aprenderão que os conflitos são normais e podem ser resolvidos através da comunicação. Deixe claro que as crianças não são culpadas de nada,

5. Se algum dos pais “perder a cabeça”, explique-lhes que a falta de controlo foi um erro, provocado por um momento de tensão, e peça desculpa.

6. Nunca, sob hipótese alguma, inclua os filhos numa discussão. Também não peça que eles tomem partido de um ou de outro.