Já lhe aconteceu estar numa situação normal, do seu dia a dia, e ser invadido por sentimentos de raiva tão fortes, que sente que pode perder o controlo? E quando finalmente se conseguiu acalmar, nem sequer se conseguia lembrar do que é que o pode ter deixado naquele estado?
Provavelmente teve um ataque de raiva.
A raiva é uma das emoções naturais no ser humano, e acompanha-nos ao longo da vida. Ela é essencial à nossa sobrevivência, e é ela que nos permite indignar-nos com situações que não são justas, e termos a força necessária para optarmos pelo melhor para nós.
Contudo, quando descontrolada, a raiva pode afetar a nossa saúde, e a vida dos que nos rodeiam.
Venha entender melhor a origem destes sentimentos de raiva, e como é que pode aprender a gerir-los da melhor forma.
O que é a raiva?
A raiva é uma das emoções primárias do ser humano. Ela é uma das responsáveis por acionar os nossos instintos de ataque ou defesa.
Por ser, muitas vezes, ativada de forma inconsciente, acabamos por nos sentir assoberbados por ela, e quando, em retrospectiva, olhamos para as ações e palavras que usamos durante os nossos momentos de raiva, podemos sentir-nos arrependidos, culpados, ou até mesmo com vergonha.
Mas, ainda assim, o que foi dito e feito durante uma crise de raiva, não pode ser apagado. E muitas das vezes traz consigo consequências para a vida do próprio, e para as relações com os outros presentes no momento.
Conseguir manter o controlo durante uma crise de raiva, passa por trabalhar os nossos recursos internos, que nos permitem dominar os nossos impulsos, e ter estratégias que nos permitam ganhar alguns segundos para nos acalmarmos, e nos distanciarmos do conflito que se apresenta à nossa frente.
O que acontece no organismo?
Como já referimos, a raiva é uma emoção natural no ser humano, e como tal, é parte de um conjunto de processos fisiológicos que acontecem no cérebro.
Dentro do nosso cérebro humano temos uma parte chamada de amígdala, que faz parte do sistema límbico (responsável pela gestão das nossas emoções). A amígdala é um importante centro regulador dos nossos comportamentos de ataque ou fuga, em situações de perigo, bem como do comportamento agressivo e das nossas respostas emocionais.
Quando recebemos algum estímulo externo, que faz de gatilho emocional à raiva, a amígdala é estimulada, ativando assim o hipotálamo. O hipotálamo, por sua vez, ativa a produção de hormonas, através do sistema endócrino, como o cortisol (hormona do stress), a adrenalina e a noradrenalina. A presença, no sangue, de hormonas como o cortisol inibem a presença de outras hormonas, como a serotonina (a hormona que nos faz sentir bem e felizes), o que faz com que sintamos com mais facilidade a raiva e a dor.
Além disso, níveis elevados de cortisol, suprimem a atividade do nosso córtex pré-frontal, o que nos impede de sermos “racionais” durante discussões.
Vários estudos apontam para que esta resposta neurológica à raiva dure menos de dois segundos, e por isso, contar até 10 pode evitar que a situação se descontrole.
Os efeitos da raiva descontrolada
Ninguém gosta de estar perto de alguém que está sempre a discutir ou irritado com o mundo. E por isso, os indivíduos que sofrem desta raiva descontrolada, acabam por ficar cada vez mais isolados de amigos e/ou familiares.
O mesmo acontece no trabalho. Os colegas começam a evitar estar perto destas pessoas, limitando as suas interações com elas ao mínimo indispensável.
Aos poucos, a pessoa que tem crises de raiva frequentes acaba por afastar os outros da sua vida, já que ninguém se sente bem, ou até mesmo seguro, ao seu lado. Este isolamento social involuntário não é bom para a saúde mental de ninguém, e na grande maioria das vezes acaba por intensificar as crises de raiva, dando origem a um ciclo vicioso sem fim.
Dicas para controlar a raiva
Viver com crises frequentes de raiva não é saudável, e é certamente um indicador de que algo não está bem, e deve procurar ajuda profissional, para entender as origens destes sentimentos. Além disso, pode também experimentar estas técnicas, para conseguir controlar os seus impulsos, e evitar que as situações escalem, quando se irrita:
- Respire fundo, e conte até 10.
Por mais difícil que possa parecer manter a calma quando ficamos nervosos, concentrar-se na sua respiração, quando sente que um surto de raiva se pode estar a aproximar, evita que perca o controlo da situação.
Uma outra opção pode ser distanciar-se da pessoa ou situação, para que se possa acalmar, e não perder a cabeça.
2. Beba um copo de água
Quando começamos a ser invadidos por sentimentos de raiva, os batimentos cardíacos e a temperatura corporal aumentam. Ao bebermos um copo de água, conseguimos regularizar a temperatura do corpo, o que nos ajuda a pensar com mais clareza.
3. Procure entender o que lhe causa raiva.
Conseguirmos reconhecer quais são os gatilhos emocionais que nos fazem sentir raiva, pode ser uma boa forma de conseguirmos evitar estas situações, ou de as anteciparmos. Além disso, é também importante conhecermos a forma como expressamos as nossas emoções, e o efeito que esses comportamentos podem ter nas nossas relações com os outros. Se estiver em um ambiente público, procure um local mais calmo e escreva o que está sentindo. Retirar-se da situação, ao contrário do que se pensa, não é um sinal de fraqueza ou desistência. Neste caso, não deixe o orgulho vencer.
4. Tenha empatia pelo outro.
Os sentimentos de raiva são muitas vezes causados pela falta de capacidade de entender os comportamentos e motivações dos outros. Conseguirmo-nos colocar no lugar do outro permite que consigamos compreender o que o fez tomar determinada atitude, e não ficarmos com raiva.
5. Aceite a realidade como ela é.
Entrarmos em negação, ou revoltarmo-nos com a realidade, não nos serve de nada. Infelizmente, nunca seremos capazes de controlar tudo na vida, e os imprevistos vão sempre continuar a acontecer. Apenas se aceitarmos a vida como ela é, podemos viver de forma mais relaxada e feliz.
Uma das maiores causas de infelicidade, de tristeza e de raiva é a negação. Infelizmente (ou talvez felizmente), não temos o controle de muitas coisas que acontecem
Irritar-se ou preocupar-se excessivamente apenas o deixará mais frustrado. Portanto, aceite a realidade como é. Só assim será capaz de procurar alternativas para lidar com o desagradável ou o doloroso.